domingo, 19 de setembro de 2010

Fundo de quintal



É difícil saber quais são as chaves da memória capazes de permitir que os saberes, hábitos e gestos esquecidos se atualizem nos sujeitos. Mas, subitamente e para o deslumbramento de todos os seus próximos, ela retomou uma prática que lhe cabe perfeitamente como arte: o manejo da horta caseira orgânica. Combinada, é claro, com as flores, os sabiás e as abelhas.









"Dos mais antigos usos dos povos parece vir a nós como uma advertência: na aceitação daquilo que recebemos tão ricamente da natureza, guardar-nos do gesto da avidez. Pois não somos capazes de presentear à mãe Natureza nada que nos é próprio. Por isso convém mostrar reverencia no tomar, restituindo, de tudo que desde sempre recebemos, uma parte a ela, antes ainda de nos apoderar do nosso. Essa reverencia se manifesta no antigo uso da libatio. Aliás, é talvez essa mesma antiqüíssima experiência ética que se conserva, transformada, na proibição de juntar as espigas esquecidas e de recolher cachos de uva caídos, uma vez que estes fazem proveito à terra ou aos antepassados dispensadores de bênçãos. Segundo o uso ateniense, o recolher de migalhas durante a refeição era interdito, porque pertenciam aos heróis. – Uma vez degenerada a sociedade, sob desgraça e avidez, a tal ponto que ela só pode ainda receber os dons da natureza pela rapina, que ela arranca os frutos imaturos para poder trazê-los vantajosamente ao mercado e que ela tem de esvaziar toda bandeja somente para ficar saciada, sua terra empobrecerá e o campo trará más colheitas" (WALTER BENJAMIN, Rua de mão única)



Um comentário:

  1. Ah! a Dona Elza!!! Querida amiga e mãe da minha grande amiga!! as mãos mágicas que sabem fomentar a terra. A sutil capacidade de sementear!!! Prazer!
    Bete.

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